Entre os fataés eventos desta presente guerra, entendo serà de V.m. sem duvida havido por digno de maior ponderaçaõ, o que aconteceo na Cidade de Genova, no dia dez do corrente; eu, que com horror vi o principio, e o fim delle, faltaria aos empenhos da nossa boa amizade se deixasse de participalo a V.m. com individuarlhe as cauzas de que se originou, e narrarlhe sinceramente os factos mais essenciaes de que se compoz. Jà constaràõ a V.m. os artigos do dia 6. de Setembro, intimados a esta Serenissima Republica pelo Comandante do Exercito Austriaco, e ainda que ella se achasse nessa occasiaõ constrangida a submeterse a quaesquer Leys, ditadas com a superiorïdade das forças, com tudo os seus Povos as sofriaõ de mào animo naõ só por conhecerem quam graves, e indecorosas fossem para o Governo, e para toda a naçaõ, quanto mais por as crerem totalmente alheyas das maximas, sempre grandes, e generosas de S. Magestade Imperatriz Rainha, contra a qual a dita Republica nunca teve guerra. Aumentou-se extremamente o commum sentimento, quando em 8. de Setembro foraõ intimadas do General Comissario Conde de Chotek, as exorbitantes contribuições de nove milhões de cruzados: o ferro, o fogo, e o sacco, que irreparavelmente ameaçava em caso de repulsa, encheo tanto de ira o Povo como de terror, considerando que as vidas, as fazendas, e a liberdade de cada qual naõ dependia jà mais, que de petitorios inexecutaveis, e do dispotico procedimento dos exactores, em que se naõ descubria moderaçaõ alguma. Pagos os primeiros tres milhões de cruzados, e outros cento e cincoenta mil de refresco ao Exercito, todos no termo de cinco dias; renovaraõ-se outra vez bem de pressa ao Governo as mesmas insistencias, e ameaços por outros tres milhões, que foy precizo logo pagar; nem serà defficil o conjecturar quanto internamente se enfurecesse o Povo, vendo publicamente transferir para o quartel General somas tam relevantes
Entre os fataés eventos desta presente guerra, entendo serà de V.m. sem duvida havido por digno de maior ponderaçaõ, o que aconteceo na Cidade de Genova, no dia dez do corrente; eu, que com horror vi o principio, e o fim delle, faltaria aos empenhos da nossa boa amizade se deixasse de participalo a V.m. com individuarlhe as cauzas de que se originou, e narrarlhe sinceramente os factos mais essenciaes de que se compoz. Jà constaràõ a V.m. os artigos do dia 6. de Setembro, intimados a esta Serenissima Republica pelo Comandante do Exercito Austriaco, e ainda que ella se achasse nessa occasiaõ constrangida a submeterse a quaesquer Leys, ditadas com a superiorïdade das forças, com tudo os seus Povos as sofriaõ de mào animo naõ só por conhecerem quam graves, e indecorosas fossem para o Governo, e para toda a naçaõ, quanto mais por as crerem totalmente alheyas das maximas, sempre grandes, e generosas de S. Magestade Imperatriz Rainha, contra a qual a dita Republica nunca teve guerra. Aumentou-se extremamente o commum sentimento, quando em 8. de Setembro foraõ intimadas do General Comissario Conde de Chotek, as exorbitantes contribuições de nove milhões de cruzados: o ferro, o fogo, e o sacco, que irreparavelmente ameaçava em caso de repulsa, encheo tanto de ira o Povo como de terror, considerando que as vidas, as fazendas, e a liberdade de cada qual naõ dependia jà mais, que de petitorios inexecutaveis, e do dispotico procedimento dos exactores, em que se naõ descubria moderaçaõ alguma. Pagos os primeiros tres milhões de cruzados, e outros cento e cincoenta mil de refresco ao Exercito, todos no termo de cinco dias; renovaraõ-se outra vez bem de pressa ao Governo as mesmas insistencias, e ameaços por outros tres milhões, que foy precizo logo pagar; nem serà defficil o conjecturar quanto internamente se enfurecesse o Povo, vendo publicamente transferir para o quartel General somas tam relevantes