Author: | Peter Pál Pelbert, Eder Cardoso | ISBN: | 9788573215212 |
Publisher: | Iluminuras | Publication: | August 22, 2016 |
Imprint: | Language: | Portuguese |
Author: | Peter Pál Pelbert, Eder Cardoso |
ISBN: | 9788573215212 |
Publisher: | Iluminuras |
Publication: | August 22, 2016 |
Imprint: | |
Language: | Portuguese |
DO PRÓLOGO Um trapezista se dá conta, subitamente, de que sua vida está por um triz: "Viver assim, com uma só barra entre as mãos... É vida, isto?". A existência de repente lhe parece estreita demais, pobre demais, frágil demais. Passa a exigir dois trapézios em vez de um, e promete "nunca mais e em circunstância nenhuma" voltar a apresentar-se como antigamente, pendendo de uma única barra. O trapezista de Kafka, em sua exclamação apavorada, expressa o que as acrobacias do mundo contemporâneo tentam dissimular a todo custo: a percepção vertiginosa de que estamos por um fio, a descoberta penosa de ver-se reduzido a quase nada, a suspeita crescente de que esse pouco talvez não baste para prosseguir. Ao lado da certeza esvaída, a vida depauperada, o abismo escancarado, a quebra irremissível no fio do tempo e no contorno da alma. Se alguns dos textos que seguem podem ser colocados sob o signo desse sobressalto, o foco principal da maioria deles está em outra parte. Pois se é certo que parecemos desarmados diante dos múltiplos sentidos que o desgosto primeiro do trapezista continua a suscitar (o conto de Kafka chama-se "A primeira dor"), é preciso ir além do susto e de seus efeitos de superfície para sondar os gestos de reinvenção da vida que ele esboça. Não há como fazê-lo, no contexto contemporâneo, sem antenar para a miríade de riscos, ofertas e urgências na qual nos lança, na sua oscilação sincopada, a barra do presente. (continua)
DO PRÓLOGO Um trapezista se dá conta, subitamente, de que sua vida está por um triz: "Viver assim, com uma só barra entre as mãos... É vida, isto?". A existência de repente lhe parece estreita demais, pobre demais, frágil demais. Passa a exigir dois trapézios em vez de um, e promete "nunca mais e em circunstância nenhuma" voltar a apresentar-se como antigamente, pendendo de uma única barra. O trapezista de Kafka, em sua exclamação apavorada, expressa o que as acrobacias do mundo contemporâneo tentam dissimular a todo custo: a percepção vertiginosa de que estamos por um fio, a descoberta penosa de ver-se reduzido a quase nada, a suspeita crescente de que esse pouco talvez não baste para prosseguir. Ao lado da certeza esvaída, a vida depauperada, o abismo escancarado, a quebra irremissível no fio do tempo e no contorno da alma. Se alguns dos textos que seguem podem ser colocados sob o signo desse sobressalto, o foco principal da maioria deles está em outra parte. Pois se é certo que parecemos desarmados diante dos múltiplos sentidos que o desgosto primeiro do trapezista continua a suscitar (o conto de Kafka chama-se "A primeira dor"), é preciso ir além do susto e de seus efeitos de superfície para sondar os gestos de reinvenção da vida que ele esboça. Não há como fazê-lo, no contexto contemporâneo, sem antenar para a miríade de riscos, ofertas e urgências na qual nos lança, na sua oscilação sincopada, a barra do presente. (continua)