POESIAS DE SÁ DE MIRANDA Edição feita sobre cinco manuscritos ineditos e todas as edições impressas, acompanhada de um estudo sobre o Poeta, variantes, notas, glossario, e um retrato, por Carolina Michaëlis de Vasconcellos; Halle, Max Niemeyer, 1885. É esta a primeira edição critica das Poesias de Francisco de Sá Miranda, o Horacio e o Seneca portuguez, como lhe chamaram os contemporaneos, o reformador do Parnaso portuguez no seculo XVI. Foi necessario que se passassem mais de 300 annos (Miranda morreu em 1558: a primeira impressão de parte das suas obras tem a data de 1595) para que apparecesse uma edição critica, indispensavel todavia desde o primeiro dia. E ainda assim não a devemos a nenhum dos nossos—como a nenhum dos nossos devemos a admiravel edição do Cancioneiro de Garcia de Resende (de Stuttgard), a edição diplomatica do Cancioneiro do Vaticano (publicada em Halle pelo italiano Monaci) e tantos outros valiosissimos trabalhos sobre a nossa lingua e literatura, publicados, no decurso dos ultimos 50 annos, em Allemanha, Holanda e França. Uma senhora alleman, hoje portugueza pelo casamento, pessoa tão modesta como intelligente e laboriosa, e a quem a historia da lingua e literatura portuguezas tinha já a agradecer trabalhos, que, por passarem desapercebidos nesta verdadeira Caverna do Esquecimento, que é o Portugal de hoje, nem por isso deixam de ser de primeira ordem, emprehendeu e levou a cabo a restauração do texto do grande poeta moralista do seculo XVI, que até agora andava, mais do que o de nenhum outro dos seus contemporaneos, incerto, obscuro e deturpado. O trabalho corresponde plenamente ao muito que havia a esperar do saber e penetração da autora daquella notavel série de Estudos camonianos, que começaram a lançar alguma luz sobre o estado cahotico do texto do nosso grande lirico. Dez annos de aturado trabalho; estudo comparativo escrupolosissimo das edições impressas e dos manuscritos ineditos; conhecimento profundo e quasi topographico da epocha, dos costumes, dos personagens, da lingua, das tendencias intellectuaes, uma extraordinaria familiaridade com todas as fontes do grande seculo; um grande e seguro sentimento da realidade historica; criterio penetrante e elevado, ainda no meio das minudencias a que tem de descer—eis o que representa esta edição critica, que não encarecerei chamando-lhe um modelo
POESIAS DE SÁ DE MIRANDA Edição feita sobre cinco manuscritos ineditos e todas as edições impressas, acompanhada de um estudo sobre o Poeta, variantes, notas, glossario, e um retrato, por Carolina Michaëlis de Vasconcellos; Halle, Max Niemeyer, 1885. É esta a primeira edição critica das Poesias de Francisco de Sá Miranda, o Horacio e o Seneca portuguez, como lhe chamaram os contemporaneos, o reformador do Parnaso portuguez no seculo XVI. Foi necessario que se passassem mais de 300 annos (Miranda morreu em 1558: a primeira impressão de parte das suas obras tem a data de 1595) para que apparecesse uma edição critica, indispensavel todavia desde o primeiro dia. E ainda assim não a devemos a nenhum dos nossos—como a nenhum dos nossos devemos a admiravel edição do Cancioneiro de Garcia de Resende (de Stuttgard), a edição diplomatica do Cancioneiro do Vaticano (publicada em Halle pelo italiano Monaci) e tantos outros valiosissimos trabalhos sobre a nossa lingua e literatura, publicados, no decurso dos ultimos 50 annos, em Allemanha, Holanda e França. Uma senhora alleman, hoje portugueza pelo casamento, pessoa tão modesta como intelligente e laboriosa, e a quem a historia da lingua e literatura portuguezas tinha já a agradecer trabalhos, que, por passarem desapercebidos nesta verdadeira Caverna do Esquecimento, que é o Portugal de hoje, nem por isso deixam de ser de primeira ordem, emprehendeu e levou a cabo a restauração do texto do grande poeta moralista do seculo XVI, que até agora andava, mais do que o de nenhum outro dos seus contemporaneos, incerto, obscuro e deturpado. O trabalho corresponde plenamente ao muito que havia a esperar do saber e penetração da autora daquella notavel série de Estudos camonianos, que começaram a lançar alguma luz sobre o estado cahotico do texto do nosso grande lirico. Dez annos de aturado trabalho; estudo comparativo escrupolosissimo das edições impressas e dos manuscritos ineditos; conhecimento profundo e quasi topographico da epocha, dos costumes, dos personagens, da lingua, das tendencias intellectuaes, uma extraordinaria familiaridade com todas as fontes do grande seculo; um grande e seguro sentimento da realidade historica; criterio penetrante e elevado, ainda no meio das minudencias a que tem de descer—eis o que representa esta edição critica, que não encarecerei chamando-lhe um modelo