A cidade sitiada

Fiction & Literature, Contemporary Women, Literary
Cover of the book A cidade sitiada by Clarice Lispector, Rocco Digital
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Author: Clarice Lispector ISBN: 9788581225500
Publisher: Rocco Digital Publication: June 1, 1998
Imprint: Language: Portuguese
Author: Clarice Lispector
ISBN: 9788581225500
Publisher: Rocco Digital
Publication: June 1, 1998
Imprint:
Language: Portuguese

Em 1971, Clarice Lispector disse ao jornal Correio da Manhã que A cidade sitiada, de 1949, foi seu livro mais difícil de escrever. Talvez porque, na história de Lucrécia Neves, o talento de Clarice tenha levado à perfeição o paradoxo de desumanizar ao máximo seus personagens para torná-los visceralmente humanos. A simplória protagonista Lucrécia, docemente desprovida de raciocínio e/ou de consciência, é alma gêmea de Macabéa, de A hora da estrela. Lucrécia é apenas o que ela vê: os cavalos a esmo na suburbana cidade natal de São Geraldo, o morro do Pasto, o armazém, o sol sem vento da tarde. Lucrécia portanto era São Geraldo. Sua alma, suas emoções eram o tédio do subúrbio. Ela tinha um vago desejo de se casar e, por isto, passeava com o tenente Felipe, do qual gostava da farda militar, mas ele não gostava de São Geraldo, logo não gostaria de Lucrécia. Saía com Perceu Maria, que desprezava talvez por ser atônito e vazio como ela. Mas nenhum dos dois a pedia em casamento e, quando a agonia do coração de Lucrécia batia em descompasso com a modorra da cidade, ela sonhava com um baile. Um baile com música e danças seria a salvação. Por pura catatonia, restou a Lucrécia o casamento com Mateus Correia, comerciante rico e bem mais velho, por iniciativa da mãe, Ana, à qual não oferecera entusiasmo ou resistência. Depois do casamento, Lucrécia continuou a ver diariamente o movimento do trânsito, da construção de um viaduto, das aranhas fazendo suas teias, os mosquitos. Via o marido e suas preocupações domésticas. Amava-o? Depois da morte de Mateus, Lucrécia, menos sitiada mas ainda não liberta, vai em busca de um homem de bom coração. Mas para ela o amor era difícil. Ela não o via e, portanto, não sabia o que era o amor. A cidade sitiada, como os demais títulos de Clarice Lispector relançados pela Rocco, recebeu novo tratamento gráfico e passou por rigorosa revisão de texto, feita pela especialista em crítica textual Marlene Gomes Mendes.

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Em 1971, Clarice Lispector disse ao jornal Correio da Manhã que A cidade sitiada, de 1949, foi seu livro mais difícil de escrever. Talvez porque, na história de Lucrécia Neves, o talento de Clarice tenha levado à perfeição o paradoxo de desumanizar ao máximo seus personagens para torná-los visceralmente humanos. A simplória protagonista Lucrécia, docemente desprovida de raciocínio e/ou de consciência, é alma gêmea de Macabéa, de A hora da estrela. Lucrécia é apenas o que ela vê: os cavalos a esmo na suburbana cidade natal de São Geraldo, o morro do Pasto, o armazém, o sol sem vento da tarde. Lucrécia portanto era São Geraldo. Sua alma, suas emoções eram o tédio do subúrbio. Ela tinha um vago desejo de se casar e, por isto, passeava com o tenente Felipe, do qual gostava da farda militar, mas ele não gostava de São Geraldo, logo não gostaria de Lucrécia. Saía com Perceu Maria, que desprezava talvez por ser atônito e vazio como ela. Mas nenhum dos dois a pedia em casamento e, quando a agonia do coração de Lucrécia batia em descompasso com a modorra da cidade, ela sonhava com um baile. Um baile com música e danças seria a salvação. Por pura catatonia, restou a Lucrécia o casamento com Mateus Correia, comerciante rico e bem mais velho, por iniciativa da mãe, Ana, à qual não oferecera entusiasmo ou resistência. Depois do casamento, Lucrécia continuou a ver diariamente o movimento do trânsito, da construção de um viaduto, das aranhas fazendo suas teias, os mosquitos. Via o marido e suas preocupações domésticas. Amava-o? Depois da morte de Mateus, Lucrécia, menos sitiada mas ainda não liberta, vai em busca de um homem de bom coração. Mas para ela o amor era difícil. Ela não o via e, portanto, não sabia o que era o amor. A cidade sitiada, como os demais títulos de Clarice Lispector relançados pela Rocco, recebeu novo tratamento gráfico e passou por rigorosa revisão de texto, feita pela especialista em crítica textual Marlene Gomes Mendes.

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